PLANETA EM MOVIMENTO

terça-feira, 18 de novembro de 2008

HERÓI NEGRO?

Com Obama, os negros são vitoriosos, mas não terão um capitão América ou Tio Sam

O ingresso garantido por Barack Obama para passar quatro anos hospedado na Casa Branca com sua esposa e filhas é um feito extraordinário dos negros. O presidente eleito é o símbolo de gerações de afro-americanos que por séculos o ajudaram para que chegasse ao topo do poder. Mas Obama não é e nem será o herói dos negros.

Ele assumirá o cargo de representante de uma nação que hoje abriga brancos, amarelos, descendentes de negros e de índios. Diversidade tão bem compreendida por ele e por ele simbolizada. Mãe branca, pai queniano; morador , quando criança, da Indonésia; o ex-senador por Illinois leva consigo o retrato de um mundo moderno e globalizado.

Deus o pôs na presidência no momento exato. Alegre coincidência. Justamente em fase de crise econômica mundial aparece um sujeito experimentado e conhecedor de diferentes culinárias, costumes, crenças e povos. Se a união entre nações será a solução, como diz Lula, para encontrar o fim do túnel da obscuridade financeira, Obama terá habilidade para dialogar e reunir muito mais forças mundiais, , como governante da maior potência mundial, do que George W. Bush conseguiu em todo o seu mandato.

A simpatia que o miscigenado político conquistou durante e depois da campanha esteve pairando em diversos pontos terrestres. Na Indonésia e Brasil, por exemplo, manifestada pela declaração dos presidentes locais da admiração pelo democrata e na África transmitida pelo feriado decretado pelo chefe de estado queniano um dia após a vitória de Obama nas urnas. Sem contar as comemorações em várias outras terras, orientais e ocidentais.

A imparcialidade de Obama, quanto a preferência racial, parece prevalecer em sua política.No processo de disputas com Hillary e John McCain nunca defendeu um posicionamento somente a favor de brancos ou negros, até porque ele é uma mistura das duas cores. Mas, mesmo não sendo muçulmano, apesar do sobrenome, nunca vociferou discursos conotando preconceitos para os fiéis do corão ou para etnias.

A promessa de retirar as tropas do Iraque em dezesseis anos não é apenas o reconhecimento do déficit econômico da incursão insensata dos republicanos, mas a característica pacífica da conduta política de Obama. Em uma época que a maioria das guerras contemporâneas não ocorrem mais por questões ideológicas como vem tentando fazer os EUA, mas por problemas étnicos e religiosos.

Protestante, o primeiro presidente negro dos norte-americanos defende o casamento dos homossexuais e o aborto. Posicionamento oposto ao que prega a sua fé. Amostra convincente da facilidade de harmonizar idéias demasiadamente heterogêneas à primeira vista. Um exemplo de esperança para um futuro menos conflituoso.

Na opinião de Michael Hardt, autor de “Império”, livro antiimperialista sucesso entre grupos de esquerda, os movimentos sociais ganham com Obama a oportunidade de produzirem mais frutos. “Nos últimos anos, tivemos de nos concentrar em temas que não deveriam estar mais em questão, como tortura, fechamento de Guantánamo, guerra no Iraque.Esses assuntos agora deixarão de ser motivo de polêmica .Os movimentos sociais poderão ser mais produtivos e terão novas oportunidades de pensar os desafios do mundo atual”, disse em entrevista ao jornal O Globo.

Os negros , no entanto, são os que receberam e continuarão recebendo os maiores benefícios morais conquistados com a eleição presidencial norte americana : A certeza de serem parte dos Estados Unidos e capazes de alcançarem seus sonhos, confiantes em sua força.

“Nosso imaginário coletivo, percepção e auto-estima irão mudar em toda parte do mundo”, afirmou, também ao jornal O Globo, o antropólogo nascido na República Democrática do Congo, Kabengele Munanga, coordenador do Centro de Estudos Africanos da USP.Mas ,segundo ele, “ as pessoas ( de pele escura) continuam vivendo seus complexos e seus problemas individuais”.

Auma Obama, habitante do Quênia e filha de uma queniana com o pai do presidente eleito, comenta a empolgação e expectativa de seus conterrâneos. “Eu acho que foi sensacional a vitória de Barack, mas nós não devemos nos iludir. Ele já disse que é americano. Pode ter simpatia pelo continente do seu pai, mas vai governar levando em consideração os interesses dos Estados Unidos”, declarou Auma em entrevista a agência de notícias Reuther.

A sensata meia-irmã sabe as inúmeras ocupações que Obama terá pela frente para tentar amenizar o caos financeiro da nação campeã em consumo.A preferência será o resgate do crescimento, mas será óbvio que alguns olhares serão voltados --e por que não alguns projetos--ao seu chão paterno.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

MAL QUE GERA MAL

Violência urbana aumenta número de vítimas de Transtornos de Estresse Pós-Traumático
A violência urbana nas grandes cidades aumenta temerosa e progressivamente.A cada dia as notícias que mais aparecem nos telejornais são aquelas que mostram assaltos, assassinatos, tiroteios e toda a sorte de perigos a que está sujeita a maioria da população sem a segurança do Estado.E uma das doenças psiquiátricas que está brotando ou piorando em decorrência desse problema social é o estresse.
Na cidade conhecida como maravilhosa, por exemplo, o crime ronda as esquinas de todos os bairros.Nenhum deles está a salvo.Nem mesmo os que sustentam o IPTUs mais caros.No Leblon seqüestros e invasão a apartamentos acontecem; em Ipanema e Copacaba as trocas de tiros nas comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho,respectivamente, desvalorizam em mais de 50% os imóveis;nas áreas mais afastadas da cidade, como a região noroeste, o poder paralelo manda e põe terror em quem não colabora com o reinado ilegal.Para todos os lados as grades confinam os homens de bem e libertam os perigosos.Uma cidade sem lei, realidade semelhante ao que vivenciam outras metrópoles:São Paulo, Porto Alegre, Salvador...
As oportunidades estão dadas para o avanço dos Transtornos de Estresse Pós-Traumático(TEPT).Segundo o site do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência, da Universidade Federal de São Paulo, o TEPT pode ser desencadeado após o ser humano passar por situação traumática muito intensa " Cerca de 15 a 20% destas pessoas desenvolverão o TEPT", registra a página eletrônica do programa da UNIFESP.
Uma das marcas da doença é a constante lembrança do fato traumático ocorrido, através de sonhos, imagens mentais e flashbacks, de acordo com o site.O veículo de comunicação informa que as revivências dos eventos negativos são acompanhadas de intenso sofrimento e são independentes da vontade. Por causa dos momentos de profunda incomodação, os portadores do TEPT tentarão evitar, de distintas maneiras, tais recordações.
"Passam a evitar assistir filmes ou noticiários de violência ou conversar sobre o tema.Com isto vão se isolando socialmente. Não é incomum o paciente se queixar de um anestesiamento afetivo, sente-se incapaz de demonstrar o seu afeto para as pessoas amadas. Se retrai do convívio familiar. Com o quadro tem grande prejuízo, por vezes levando até o abandono do emprego", informa o site, que ressalta : " O Transtorno de Estresse Pós Traumático pode vir a surgir até um ano após a situação de violência brusca experimentada.
A professora doutora da UERJ, Maria Luiza Bustamante de Sá, ratifica que o transtorno só aparece quando há um contato mais forte com atos violentos. Nos demais casos, segundo a docente, o TETP apenas se desenvolve se a pessoa ter uma pré-disposição à ele. “O estresse decorrente da violência urbana tem condições de desestabilizar quadros mentais , mas não criá-los.Exceto se o indivíduo vivencie uma experiência muito brusca, como ficar preso em meio a uma troca de tiros entre bandidos e policiais ”, explica Maria Luiza. Segundo ela, no caso exemplificado, a vítima adentra em uma dimensão mais profunda da gravidade social com o qual está exposta.
Infância pode determinar pré-disposição
De acordo com Maria Luiza, que também ocupa o cargo de coordenadora do Projeto Capacitação e Treinamento para Atendimento Psicológico para Crianças Vítimas de Violência, a infância é uma fase decisiva para formar um ser humano equilibrado. A professora informa que o processo de transição da infância, iniciado aproximadamente aos seis anos, começa a desfazer o imaginário da criança e a mostrá-la um novo universo, muitas das vezes amargo.
"A criança percebe que antes o mundo em que vivia era muito mais bonito. Ao descobrir aos poucos a realidade , dependendo da criança, passa a ser muito insegura, medrosa , assustada. Elas descobrem que os amigos não são tão confiáveis e bonzinhos, os irmãos não são tão generosos”, relata a professora doutora.
Mas o futuro dos menores dependerá da família e do meio no qual vivem.“Se estão inseridas em um mundo violento, agressivo, expostas continuamente a eventos de confusão, assassinatos ou a cenas sexuais-- muitas vezes protagonizadas pelos próprios pais que não se importam em se relacionar sexualmente na frente dos filhos pequenos--, os menores serão propícios a se tornarem problemáticos.

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

UM SUCESSO DE CAMPANHA.UM GRANDE DESAFIO DE MANDATO

As linhas de telefone de Chicago entraram em colapso. Milhares de pessoas da cidade à beira dos grandes lagos estavam afoitas para espalhar , na madrugada de hoje, a notícia prevista pelas pesquisas de opinião há meses:Barack Obama, eleito, pelo voto popular, novo presidente dos Estados Unidos.
A festa dos simpatizantes de Obama no Grant Park de Chicago foi emocionante.Eles gritavam, choravam, sorriam.Davam graças a Deus pelo fim do poder dos republicanos, duradouro por oito anos na liderança Bush e que termina deploravelmente.
O primeiro presidente negro dos EUA é o símbolo da mudança e da esperança.Os norte-americanos depositam no democrata a imagem do homem que irá recuperar o país da instabilidade e , conseqüentemente, intranqüilidade econômica, situação incomum para uma geração acostumada com a fartura.A confiança é tanta , que se expressa nos números arrecadados por Obama como candidato.
Ele preferiu não aceitar recursos financeiros governamentais e com uma bela estratégia de campanha angariou 600 milhões de dólares.De cidadãos que não compareciam em seus comícios e de outros que, além de comparecer nos locais de discursos do democrata, participavam do movimento de atração de novos eleitores, através de ligações, internet ou corpo a corpo.
Mas a quantia financeira conquistada nos últimos dois anos, principalmente nos últimos meses, não será a realidade nos próximos quatro anos na Casa Branca, que prometem ser de bastante dificuldade. O déficit que Bush deixará a partir de 20 de janeiro de 2009, dia em que o senador por Illinois toma posse, será de US$ 438 bilhões; fora o pacote econômico aceito no Congresso em outubro que custa US$ 700 bilhões e deverão ser desembolsados pelo novo chefe de Estado.
Tais números expressam o poço em que se encontra a nação mais rica do mundo. Com um mercado em decadência, impulsionada pela redução do crédito, as empresas não vendem, não lucram, demitem e o número de desempregados agrava o caos econômico; iniciado pela falta de pagamento de muitos norte americanos-- parte dos quais hoje desabrigados-- às imobiliárias.
O legado republicano deixa não só a marca da sangria econômica, mas uma ainda mais grave: A sangria humana. Envolvido em várias frentes de guerra, nenhuma delas surtiu o efeito positivo que Bush imaginava. Nem no Iraque, nem nos outros países do Oriente Médio. No Afeganistão o efeito foi contrário; Al Qaeda e Talibã se fortaleceram.A promessa de tentar de cessar o conflito entre palestinos e os israelenses, a principal de Condolezza Rice à frente da secretaria de estado, ficou só nas palavras; especialidade e um dos principais trunfos de Obama.
A retórica do havaiano, de 47 anos, foi muito elogiada pela mídia brasileira e estrangeira, utilizada por adversários e críticos como uma das poucas coisas que sabia fazer direito. No entanto, soube demonstrar que o talento estava, além da língua, em sua pessoa.A simpatia virou argumento para a doação do voto a Obama, conforme demonstrou-se em várias entrevistas com o eleitorado realizadas por emissoras de TV brasileiras.
Em um site de relacionamento, Facebook, Obama trava amizades com 2 milhões de pessoas,enquanto McCain tem 500 mil amigos.A popularidade de um astro que agradou figuras da internet( obama girl), personalidades conhecidas(Paul Volcker, ex-presidente do Fed; Colin Powell, ex-secretário de Estado da atual presidência;entre outras) e órgãos de imprensa, apoiadores declarados como o jornal The New York Times e a revista The Economist.
Com todo o incentivo popular, a tarefa parece ser fácil. Amigos durante a campanha terão de se tornar fiéis durante o mandato.A batata quente que será herdada pode decepcionar ou tornar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos , caso consiga despachá-la, um herói nacional.