PLANETA EM MOVIMENTO

domingo, 3 de maio de 2009

VOLTE PARA SUA TERRA



Você já ficou sentado em meio à sala de aula e quase não reparou em seu colega do lado? No entanto, ficou visualizando a classe quase inteira e prestou atenção em alguns alunos específicos distantes de você? Inúmeras pessoas convivem tão próximas, mas sequer se conhecem ou se dão o devido valor. Acontece em turmas de colégio, no ambiente de trabalho e em âmbito familiar. Geralmente busca-se algo longe sem perceber a preciosidade que está a poucos metros de distância diariamente.
Inúmeros romances se iniciam anos de amizade depois, pois durante todos esses anos os olhos nunca bateram em uma das pessoas em que mais se confia. Menino e menina andam sempre juntos na escola, trocando confidência e desabafando sobre as paqueras e paixões. Os colegas dizem que rola um namoro, mas os dois retrucam que são somente bons amigos. Nunca se imaginam trocando beijos. Namorar estragaria a relação amistosa.
O tempo passa, o casal procura daqui e de lá um amor e não dá certo. Cada qual faz elogios aos belos pretendentes. A menina aponta os gatos e o menino as gatas. Mas são incapazes de enxergarem um ao outro como um casal de namorados. Passando-se anos, uma pedra bate na cabeça ou algo estala no cérebro e cai a fixa que o verdadeiro amor esteve ao lado por muito tempo sem percepção de nenhum dos dois.
Nos relacionamentos amorosos a cegueira para com o companheiro pode culminar em uma pior. Em milhares de casos a esposa é fria com o esposo ou vice-versa ou um dá pouca atenção para o outro. É muito freqüente reclamações do tipo “meu marido só vive para beber com os amigos do bar, nem liga pra mim”. Se depois de muita conversa o beberrão do marido não se conserta, certas mulheres pedem o divórcio. Acabado o casamento, muitos maridos se arrependem e percebem, tarde, o quanto sua esposa era especial e ele não atentava.
Muitos seres humanos carregam a mania de lançar seus momentos de prazer maior fora de seu ambiente ou de sua rede de convivência. Pelo Brasil afora programas televisivos eventualmente mostram a paixão de fãs pelos seus ídolos. Geralmente são mulheres loucas pelos seus artistas e que fazem de tudo para conseguirem vê-los ou comprar produtos relacionados a eles. No entanto, parcela delas tem filhos pequenos, que ficam com avós ou tios durante dias e dias.
As crianças acabam criando apego maior com os demais familiares do que com a própria mãe. As “fãnáticas” deixam de comprar roupas, brinquedos e até alimentos para seus filhos e perdem parte da etapa do crescimento deles. Quando viram adolescentes, as crias sentem um amor maior por quem passou mais tempo com elas e não respeitam a mãe biológica como tal, para arrependimento delas. Embora o exemplo pareça ser absurdo demais, a displicência para com os próximos é mais comum do que se imagina.
Com o advento e o avanço da internet, as pessoas estão se relacionando virtualmente em espaços que não os seus e abandonando a convivência concreta ao redor. As salas de bate-papo e os MSNs da web participam de uma nova etapa da comunicação da humanidade. Milhões de adolescentes ao invés de saírem para rua e conversar com seus amigos, entram na internet e teclam com pessoas jamais vistas pessoalmente e de lugares longínquos.Depois reclamam de não terem se apaixonado ou amado ninguém. Embora alguns consigam namorar e até casar somente tendo se falado pela rede mundial de computadores.
Há homens e mulheres, jovens e idosos, que utilizam a web não apenas para bater-papo, mas sim viajar pelas paisagens, culturas e notícias do exterior ou de cidades dentro de seu próprio país. É um grupo de seres humanos que passa grande parte de sua vida conectada, porém desligada do que acontece em sua própria vizinhança. Se o UOL, o G1 e o Terra não informarem o que acontece no quarteirão, nada será conhecido. Um dos motivos para a alienação para com seu próprio local de moradia é o menosprezo por ele e a adoração por outros lugares.
O povo brasileiro está cheio de indivíduos inseridos nesse último quadro. Valorizam demasiadamente Paris, Nova York, Milão e Madrid, mas abrem a boca para lamentar e falar mal da terra em que nasceram e pisam. Para tentar esquecer a realidade brasileira concentram-se no exterior e não contribuem para a melhora do Brasil. Dando as costas ao seu alderedor, ele começa a apresentar problemas oriundos da falta de cuidado. Para qual “Estado” geográfico, humano–– ídolos do futebol e TV–– ou de práticas –– esportes–– os brasileiros estão se preocupando?
A passividade frente à política corrupta do país somente tem explicações quando se assume que os tupiniquins são otários ou dão importância a outros assuntos. Habita-se no mundo das novelas, das escolas de samba, do Big Brother Brasil; em bolhas invisíveis e suficientes para o tratamento da política, essencial para o dia-a-dia de qualquer ser humano, como banalidade. Se todos os brasileiros estivessem comprometidos com sua terra natal, descobririam as preciosidades que não desfrutam.
O tesouro pode estar debaixo de seus pés.

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