PLANETA EM MOVIMENTO

segunda-feira, 23 de março de 2009

BANQUEIROS REFORÇAM DESIGUALDADE SOCIAL, INCLUSIVE NA CRISE

Juros de lojas, financeiras e bancos enriquecem proprietários e empobrecem clientes


Há muito tempo as pessoas dizem que o Brasil é país para rico. Parece que tudo coopera somente para eles obterem êxito. Programas assistenciais são insuficientes para botar na balança e medir o quanto os dois extremos da pirâmide social ganham e ganharam desde os primórdios da chegada dos portugueses. Em plena turbulência mundial, as gritantes desigualdades apenas são reforçadas, mantendo coerência com uma trajetória sem novidades.
Quando os patrícios desembarcaram aqui eles se esbaldaram com as riquezas da terra e os índios com os espelhos, pedaços de pau, enfim, com objetos sem valor. A exploração das preciosidades naturais pelos europeus abundou quando os escravos negros botaram a mão na massa e se desgastavam até a morte para sobreviverem e garantir os lucros e os luxos dos senhores.No século XXI, os pobres mal sequer conseguem emprego e quando logram recebem uma quantia, chamada de salário, insuficiente para satisfazer metade das necessidades básicas, enquanto muitos ricos ganham dinheiro sem esforço e com exploração a fim de aplicá-lo, impulsionados pelos consumismo, em vários produtos sem utilidade.
Os banqueiros são o retrato dos milionários no Brasil contemporâneo, posição reforçada quando em um momento de crise três bancos brasileiros, Itaú Unibanco, Bradesco e o que leva o nome do país, estão entre os cinco maiores bancos da América.
Eles são uma exceção no mundo, no qual empresas financeiras vêm marcando falências e perdas de pequenas a gigantescas. Um dos grandes porquês da fuga à regra , segundo um especialista da consultoria Economática, foi a ausência de aplicações em bancos norte-americanos. Para tal especialista, os bancos brasileiros não precisaram investir fora, pois seus lucros internos eram altos o suficiente.
O dinheiro extra em níveis altíssimos foram acumulados pelo menos por duas razões. O jornal inglês Economist mencionou que o Banco Central brasileiro cortou em 1,5% a taxa Selic, paga pelos banqueiros ao BC. Mas sublinhou que a redução não é repassada para os clientes, ou seja, as instituições financeiras ficam com o 1,5% em seus cofres. Reservas já cheias pela grande arrecadação proveniente das elevadas taxas de juros que eles cobram, especialmente nos atrasos de pagamento e nas anuidades, elevadas muitas vezes sem o consentimento do pagante.
Leandro Ribeiro, morador da zona norte do Rio de Janeiro e cliente do Itaú Unibanco, tem um cartão de crédito há dois anos aproximadamente. Como ele é universitário, sua anuidade vinha cerca de RS 20. Há quatro meses, entretanto, anuidade cobrada pelo banco, parcelada a quase quatro reais em seis vezes, cresceu para seis parcelas de quinze reais, totalizando R$ 90. Segundo Leandro, o Itaú não avisou sobre o “assustador e absurdo” reajuste e não deu nenhuma satisfação a ele, que telefonou para a central de atendimento e conseguiu restabelecer a taxa antiga e reembolsar parte de seu dinheiro. De acordo com Leandro, muitos clientes acabam, pela correria do dia-a-dia, nem percebendo esses reajustes ilegais e pagam quantias injustas que os empobrecem e enriquecem os donos das empresas.
As instituições que ganham à custa de taxas, fora os bancos, são as financeiras, especializadas em empréstimos e arrecadadoras de juros que deixam descontente qualquer pessoa. Elas ou estão vinculadas aos próprios banqueiros ou são independentes, e uma tendência crescente é a parceria que elas fazem com lojas de vários tipos de serviço e produtos. Com intervenção das financeiras no ramo comercial, os brasileiros ganharam facilidade para ir às compras e pagá-las aos poucos, mas a um custo salgadíssimo.Um objeto pago com R$ 100 à vista pode sair até, sem nenhum atraso de pagamento, a R$180, quando não acontece do valor ser maior.
José da Silva, 50 anos, residente na zona oeste do Rio, comprou um gol preto, duas portas, 1.0 em uma concessionária no último mês de outubro, período em que a turbulência estava se revelando. Ele optou, por falta de condições, quitar o preço do carro em cinco anos. À vista, o veículo sairia por volta de R$ 22.500. À prazo, cada uma das 60 parcelas ficou a R$ 600, totalizando ao final de meia década R$ 36 mil, isto é, mais de 50% de juros. Imagine o quanto a concessionária e/ou a financeira parceira sairão lucrando se várias pessoas escolherem a mesma forma de pagamento. Um assalto consentido pelos clientes que o enxergam como a única maneira de atender necessidades e sonhos.
O governo federal, porém, começará a botar freio na ambição das instituições, pelo menos nas bancárias. Ele pretende que o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica e o BNDESPar adquiram fatias de bancos pequenos e médios, capitalizando-nos e fazendo com que estes voltem a emprestar e decidiu por reduzir as taxas de juros para os clientes do BB e da Caixa e, assim, induzir os privados a fazerem o mesmo.Políticos governistas disseram, inclusive, serem desnecessárias as taxas pagas hoje nos cartões de crédito.Só para se ter uma noção do lucro dos banqueiros brasileiros, desde quando suas firmas ocupavam lugares acima da trigésima posição no ranking de lucratividade, elas apresentavam as maiores rentabilidades de todos–– o que continua––acima até dos gigantes norte-americanos JP Morgan e Bank of America.
As medidas de Brasília demonstram a vontade de diminuir parcialmente a diferença de benefícios ganhos pelos dois extremos da pirâmide. O Fome Zero, Bolsa Família e tantos outros assistencialismos foram insuficientes para dar um basta a uma grotesca distância social. A população, em sua totalidade, dispensa caridade e pede, primordialmente, o cumprimento de seus direitos. Para os dois pratos da balança, quem sabe um dia, buscarem a proximidade e pobres e ricos viverem em suas condições sócio-econômicas honestamente.

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