A PORCARIA DE CARIOCAS
No dia 29 de março de 2010 um leitor postou matéria no site O Globo Online denunciando a sujeira no centro da cidade, onde papelões e caixotes haviam sido abandonados. Na matéria, o leitor destacava o papel de conscientização da Prefeitura do Rio para o carioca deixar jogar lixo nas ruas, e alertava que se o povo não fizesse sua parte muitos boeiros estariam entupidos quando ocorressem as chuvas. A informação assimilada por um cidadão se transformou, no dever de muitos outros cariocas, no lixo que invadiu inúmeras galerias pluviais e contribuiu para uma das piores enchentes que a cidade enfrentou.
Duas semanas antes das fortes chuvas, foi aprovada lei municipal que prevê multas para quem descarta lixo em logradouros públicos. A lei havia sido amplamente anunciada pela Prefeitura na mídia durante o mês de março. O prefeito Eduardo Paes, na ocasião, informou que a cidade gastava milhões com a coleta de lixo, mencionou o problema das chuvas e avisou que o governo municipal iria começar a pesar a quantidade de sujeira recolhida em determinadas vias públicas e deixar as balanças nos mesmos locais para que o carioca passasse a ver o quanto prejudica seu espaço e seu próprio bolso.
As ações do poder municipal para limpar a cidade, porém, não tiveram a rapidez suficiente para que evitasse o tamanho da catástrofe da semana retrasada. Mas serão fundamentais se continuarem sendo disseminadas nos meios de comunicação. O entupimento de boeiros, que acontece em qualquer chuva um pouco mais forte que a comum e deixa várias ruas alagadas , é resultado da educação do carioca diante de seu meio ambiente. Em todas as regiões da cidade, Zona Sul, Norte e Oeste, são visíveis objetos de todo o tipo jogados em valões, córregos, rios e no meio de calçadas e ruas. Em comunidades carentes e fora delas.
Na Tijuca, moradores reclamam da sujeira feita por pessoas de uma comunidade próxima ao Morro do Cruz. “Diariamente pessoas da comunidade jogam tudo quanto é lixo aqui pra baixo. São garrafas pet, bolsa de lixo, cadeiras, gaiolas e até sofá. Quando eles fazem obra, jogam todos os restos dos materiais de construção para a mata (que fica abaixo da comunidade e atrás de casas da Rua Tobias Moscoso)”, diz um morador que não quis se identificar. Segundo ele, pelo meio da mata passa uma vala que fica quase durante o ano todo entupida e com água empossada.
A situação de desrespeito e irresponsabilidade se repete no Rio Pavuna, que divide o bairro carioca da cidade de São João, e em outros rios do subúrbio que deságuam na Baía de Guanabara. A porcaria que é feita ao longo desses cursos d´água, além de gerar mal cheiro, provocam freqüentes inundações e prejudicam os manguezais quase inexistentes da Guanabara. Da Linha Vermelha, via expressa que passa por uma das margens da Baía, se vê um pequeno depósito de lixo disputando espaço com vegetação e animais do ecossistema.
Apesar das informações sobre os males do lixo quando destinado para locais errados, a consciência ambiental e social ainda é pequena entre a população. A maioria das pessoas que suja as ruas não consegue raciocinar que aquilo irá voltar pra ela mesma e/ou jogam objetos velhos, o lixo do dia a dia e restos de materiais de construção em qualquer lugar porque desejam se livrar deles para não gastar dinheiro ou tempo.
Para a mudança de postura, muita informação e campanhas municipais. A Prefeitura do Rio continua com a campanha contra o lixo nas ruas. Um dos projetos da campanha, anunciado em março pelo prefeito Eduardo Paes, é escolher um dia para a Comlurb não recolher o lixo jogado no chão a fim de que os cariocas sintam na pele quão ruim as ruas sujas podem ser. Uma outra boa política educativa seria usar a própria Comlurb para passar a mensagem, por meio do garoto propaganda gari Sorriso.
A Comlurb é apontada por cariocas, inclusive pelos próprios moradores da Tijuca ouvidos, como companhia competente. O recolhimento do lixo é feito dia sim e dia não e a varrição das ruas é diária. “A Comlurb faz o seu trabalho. Limpa e distribui cesta de lixo por toda a cidade. Por ela, a cidade fica limpinha”, diz o estudante Léo Ribeiro.