PASSEATA REÚNE MULTIDÃO
Protesto é feito no Cristo Redentor, símbolo internacional
Na última quarta-feira 150 mil pessoas se reuniram no centro do Rio para reivindicar a emenda Ibsen, que propõem o fim dos royalties do petróleo para os estados produtores. Com a emenda o estado do Rio de Janeiro perderia 20% de seu PIB, causando um prejuízo enorme para a unidade federativa. A multidão que ocupou a Avenida Rio Branco, em dia de chuva, trouxe à tona duas características que vão se tornando cada vez mais evidente na sociedade brasileira. A falta de capacidade para se mobilizar sozinha e o interesse primordial pelo dinheiro.
A quantia de bilhões de reais que seriam perdidos anualmente, alardeados pra todos os lados na mídia pelos governantes, causou um descontentamento aos fluminenses poucas vezes visto antes. O anúncio diário nos jornais impressos, televisivos e digitais nas duas últimas semanas, com direito a grandes destaques, anunciou todos os males que viriam a cair sobre cada município e setor econômico do Rio. Um filme de terror.
Os políticos do estado foram responsáveis pelo coro insistente sobre todos os pontos negativos da emenda. Cabral até chorou e os representantes do povo, como poucas vezes antes, convocaram a população para ir às ruas para brigar por um direito constitucional – ao lado deles. Nem segurança, nem saúde, nem educação. As cifras que iriam sair dos bolsos, carteiras e contas de eleitores e políticos foram capazes de impulsionar uma unidade quase impensável.
Os partidos políticos estiveram juntos em prol de uma causa em comum. Políticos de partidos opostos dividindo o mesmo palanque. PMN, PT, PMDB,..., direita e esquerda. Nenhuma das rixas freqüentes foi capaz de juntá-los outra vez na história recente do país. Uma ratificação do compromisso político primordial. O dinheiro acima de qualquer outro direito social – o que não vale para todos os partidos e políticos, mas para a maioria.
O exemplo e o incentivo maciço ajudaram a levar o povo às ruas e a confirmar que a prioridade da população, na verdade, é a mesma dos seus representantes. O individualismo representado pelo dinheiro, antes da vida de milhares de seres humanos que morrem por fome mensalmente ou por falta de atendimento em hospital. Mas o dinheiro não é a causa única para os 150 mil da quarta-feira. A mobilização liderada pelos governantes, extremamente apoiada pela mídia local, foi decisiva. Uma demonstração da falta de um líder, da incapacidade de articulação popular.
As chacinas e os crimes bárbaros não reuniram tanta gente assim. A morte de João Hélio, de João Roberto e de tantas vítimas inocentes serviram para chamar atenção. Um movimento muito importante contra a violência na cidade, o Rio de Paz, que freqüentemente vem tentando mobilizar a população e governantes com a colocação de objetos nas praias, nunca passou de 1 quarto do público presente no Centro na quarta-feira.
A sensibilidade foi passageira. Seu desdobramento em uma ação seria uma ação mais democrática e inteligente. Na passeata contra a medida Ibsen os políticos foram os que puxaram o “bonde” – com um ponto facultativo para os servidores públicos ainda – e a maioria desses políticos reivindicaram o que eles próprios fazem, em um nível bem pior, que é arrancar o dinheiro da sociedade.
Os 150 mil manifestantes, brasileiros que vestem a camisa democrática, fizeram um esforço que deve ser recompensado. O presidente Lula falou que lava as mãos para o assunto, mas muitas importantes figuras de terno e gravata já se mostraram contra Ibsen. A distribuição dos royalties a permanecer nas mãos dos estados produtores irá manter vivo o projeto das Olimpíadas de 2016, deixará os projetos para a despoluição das lagoas de Jacarepaguá e baías a continuar na espera para sair das gavetas e terá o destino certo garantido –a conta dos políticos.
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