PLANETA EM MOVIMENTO

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Aumento da população causará falta de comida e combustível

Em 2030, o mundo precisará de ao menos 50 % a mais de alimentos

O mundo está ficando sem tempo para garantir que haja alimentos, água e energia para atender a demanda de uma população em rápido crescimento e evitar que 3 bilhões de pessoas sejam levadas à pobreza, advertiu um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) na segunda-feira (30).

Enquanto a população mundial parece preparada para crescer dos 7 bilhões de hoje para quase 9 bilhões até 2040 e o número de consumidores de classe média aumentar em 3 bilhões nos próximos 20 anos, a demanda por recursos crescerá exponencialmente.

Mesmo para 2030, o mundo precisará de ao menos 50 % a mais de alimentos, 45 % a mais de energia e 30 % a mais de água, de acordo com as estimativas da ONU, em uma época em que o ambiente em modificação cria novos limites ao abastecimento.

Se o mundo fracassar em lidar com esses problemas, o risco é condenar 3 bilhões de pessoas à pobreza, afirmou o relatório.

Os esforços rumo ao desenvolvimento sustentável não são nem fortes nem profundos o suficiente e, além disso, falta vontade política, disse um painel da ONU voltado à sustentabilidade global.

"O atual modelo de desenvolvimento global é insustentável. Para alcançar a sustentabilidade, é necessária uma transformação na economia global", diz o relatório.

"Fazer remendos nas margens não será suficiente. A atual crise econômica global oferece uma oportunidade para reformas significativas."

Embora o número de pessoas vivendo na pobreza absoluta tenha caído dos 46 % em 1990 para 27 % da população mundial e a economia global tenha crescido 75 % desde 1992, as mudanças no estilo de vida e nos hábitos do consumidor colocaram uma pressão crescente sobre os recursos naturais.

Há mais 20 milhões de pessoas desnutridas agora do que no ano 2000; 5,2 milhões de hectares de floresta são perdidos anualmente (uma área do tamanho da Costa Rica); 85 % de todos os estoques de pescaria estão super-explorados ou foram esgotados; e as emissões de dióxido de carbono subiram 38 % entre 1990 e 2009, o que aumenta o risco de elevação no nível das marés e de mais episódios de clima extremo.

O painel, que fez 56 recomendações para que o desenvolvimento sustentável seja incluído na política econômica o mais rápido possível, disse que é necessária uma "nova política econômica".

"Vamos usar a próxima cúpula do Rio+20 para dar início a essa transição global rumo a um modelo de crescimento sustentável para o século 21 do qual o mundo precisa tanto", disse Connie Hedegaard, a comissária da União Europeia para o clima, em resposta ao relatório, referindo-se a uma cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável em junho no Brasil.

Ação

Entre as recomendações, o painel pede que os governos concordem com uma série de metas de desenvolvimento sustentável que complementariam as oito Metas de Desenvolvimento do Milênio até 2015 e criariam uma estrutura para ação depois de 2015.

Eles devem trabalhar com organizações internacionais para criar uma "revolução perene", que ao menos duplique a produtividade ao mesmo tempo em que reduz o uso de recursos e evite mais perdas à biodiversidade, afirmou o relatório.

Os ecossistemas aquíferos e marinhos deverão ser administrados de maneira mais eficiente e deve haver acesso universal à energia sustentável até 2030.

Para tornar a economia mais sustentável, a precificação do carbono e dos recursos naturais deve ser estabelecida por meio de taxação, regulação ou esquemas de comercialização das emissões até 2020 e os subsídios ao combustível fóssil também devem acabar aos poucos até lá.

Os sistemas fiscais e de crédito dos países devem ser reformados para fornecer incentivos no longo prazo às práticas sustentáveis, assim como desincentivar as insustentáveis.

Os fundos de pensão públicos e de riqueza soberana, assim como os bancos de desenvolvimento e as agências de crédito para a exportação, devem adotar critérios de desenvolvimento sustentável a suas decisões de investimento, e as agências de controle do governo ou dos mercados de ações devem revisar as regulações para estimular o seu uso.

Os governos e cientistas também devem fortalecer a relação entre a política e a ciência ao examinar com regularidade a ciência por trás dos limites ambientais e a ONU deve considerar a possibilidade de nomear um conselheiro científico chefe ou um conselho para assessorar a organização, disse o relatório.

O documento está disponível no endereço http://www.un.org/gsp/.

Fonte: Reuters

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Obama defende investimentos em energia limpa durante discurso

Ele avaliou que será difícil aprovar plano de combate a mudanças climáticas. Mas Congresso deveria estabelecer metas de energia sustentável, disse.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu investimentos em energia limpa durante o discurso sobre o Estado da União, para o Congresso americano, na madrugada da quinta-feira (25). Ele focou principalmente em gás natural, mas também citou energia solar e eólica.

"A melhor maneira de economizar dinheiro é gastando menos energia. O desenvolvimento do gás natural irá criar empregos em fábricas mais limpas e baratas, para que não precisemos escolher entre meio ambiente e desenvolvimento", disse ele.

Quanto à exploração de gás, Obama disse que é preciso garantir que não haja riscos para a saúde ou segurança dos cidadãos americanos. O aumento da extração do recurso gera preocupações, devido a denúncias de contaminação da água durante a perfuração do solo.

Obama também avaliou que será difícil o Congresso americano aprovar um plano de combate às mudanças climáticas. No entanto, a casa deveria estabelecer pelo menos metas para produção de fontes energéticas sustentáveis. Em 2011, não avançou no Congresso uma proposta de Obama para estabelecer percentuais de energia limpa que deveriam ser atingidos até 2035.

“As diferenças existentes nessa casa [o Congresso americano] podem ser muito profundas nesse momento para aprovar um plano compreensivo para combater o aquecimento global. Mas não existe razão para o Congresso não estabelecer pelo menos um padrão de energia limpa que crie mercado para inovação”.

Segundo Obama, seu governo vai desenvolver projetos de energia solar e eólica de 10 gigawatts em terras públicas. Além disso, o Departamento de Defesa vai adquirir um gigawatt de energia renovável - somente a Marinha vai comprar capacidade energética suficiente para fornecer energia para 250 mil casas por ano.

O presidente também garantiu que vai continuar a desenvolver a energia solar, apesar do colapso da fabricante de painéis solares Solyndra, em 2011, que recebeu um empréstimo de US$ 535 milhões do governo. A falência da empresa motivou críticos a questionar se o governo deveria ou não apoiar empresas energéticas.

“Algumas tecnologias não se desenvolvem, algumas companhias entram em falência”, disse Obama. “Mas eu não vou me afastar das promessas de energia limpa... eu não vou abrir mão da indústria de energia solar, eólica ou de bateria para a China ou a Alemanha porque nós nos recusamos a assumir os mesmos compromissos nos Estados Unidos”.

Fonte: G1

Imagem de (Brendan Smialowski / AFP)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Até 2030, Ban Ki-moon quer dobrar fontes renováveis


Governos e o setor privado devem ampliar seus investimentos em energia sustentável como parte de um esforço maior para combater as mudanças climáticas e a pobreza no mundo, afirmou ontem o chefe das Nações Unidas na conferência World Future Energy, nos Emirados Árabes.

Ban Ki-moon disse aos presentes que espera ver o mundo dobrar sua porcentagem de energia oriunda de fontes renováveis - que incluem a solar, a hidrelétrica e a eólica - até 2030. Ele também clamou por acesso universal à energia elétrica e pela melhora na taxa de eficiência energética.

"Este é o momento certo para a iniciativa", disse ele. "Em todo o mundo estamos assistindo à construção de ações concretas que reduzem a pobreza energética, catalisam o crescimento sustentável e atenuam as mudanças climáticas. Alcançar a sustentabilidade energética é possível e necessário", afirmou.

Ele ressaltou não ser aceitável que 3 bilhões de pessoas tenham de se valer de madeira, carvão ou carvão vegetal para cozinhar.

Depois de lembrar que a China é o maior emissor do planeta, mas também o país onde mais crescem os investimentos em energia solar e eólica, o premiê chinês Wen Jiabao defendeu um "mecanismo de governança do mercado global de energia" a ser estabelecido no âmbito do G-20 para garantir segurança, estabilidade e sustentabilidade ao setor.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Fonte da imagem: Creative Commons



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A charada do etanol


Preocupado em aumentar a oferta de etanol, o governo determinou a abertura pelo BNDES de uma linha especial de crédito, batizada de Prorenova, no valor de R$ 4 bilhões, com vigência até o fim deste ano, para incentivar a produção de cana-de-açúcar. O objetivo é suprir, em parte, a falta de investimentos na produção de etanol, que vem caindo em razão direta da baixa rentabilidade.

A medida foi considerada positiva pelo setor sucroalcooleiro, mas seus efeitos só serão sentidos a longo prazo. Como não há sinais de que o governo pretenda elevar o preço da gasolina, em uma fase delicada de combate à inflação, e como o etanol tem de custar cerca de 70% do preço daquele combustível para seu uso ser vantajoso para o consumidor, pode-se prever que os preços do etanol não melhorarão tão cedo.

O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, afirmou há pouco que o governo deseja uma "redução substancial" do preço do etanol em 2012, mas admitiu que, se isso não for viável, o País pode recorrer novamente à importação do produto - o que obviamente desestimula ainda mais quem queira produzir etanol.

Segundo estimativas dos produtores, para que o País possa produzir um volume adicional de etanol, da ordem de 2 bilhões a 4 bilhões de litros por ano, ampliando em mais de 1 milhão de hectares a área plantada, como prevê o BNDES, o Prorenova teria de vigorar por três anos, de modo a permitir o uso da capacidade ociosa das usinas de etanol, atualmente superior a 30%. Um dos problemas do setor é que a idade média dos canaviais é hoje de 3,8 anos. Como observou Plínio Nastari, da Datagro Consultoria, o ideal, para garantir uma boa produtividade, é que a idade média caísse para 2,7 anos. Isso exigiria a renovação de muitas lavouras, o que, em um primeiro momento, pode resultar em diminuição da quantidade de cana a ser moída.

O recuo na produção brasileira de etanol nos últimos anos é impressionante. Na safra 2010/11, a produção do biocombustível foi de 30 bilhões de litros, volume que deve cair 20% na safra 2011/12, não passando de R$ 24 bilhões de litros. A produção de açúcar também foi afetada pela quebra da safra de cana, mas a exportação do produto, em uma fase de altas cotações, compensou financeiramente as usinas. Já com relação ao etanol, o aumento de preços, pelo menos para cobrir os custos, teve de ser limitado pelo preço da gasolina, congelado há mais de quatro anos. Em consequência, além de o etanol ceder espaço no mercado interno, não havia disponibilidade do produto para exportar.

Não admira que, em circunstâncias como esta, tenha havido retração dos investimentos privados no aumento da produção de cana e na implantação de novas refinarias.

O que se busca agora é recuperar, pelo menos, o nível de produção a partir da safra 2012/2013, como base para uma contínua expansão. Os produtores notam, porém, que o custo dos financiamentos por meio do Prorenova ficaram além da sua expectativa, embora abaixo das taxas de mercado.

O BNDES vai cobrar nessa linha 1,3% a mais que a TJLP, que é de 6%, acrescida de 0,5% de custo fixo, o que dá 7,8%. A isso se somará o "spread" cobrado pelos bancos repassadores, calculando-se que o custo fique por volta de 10% ao ano. E pode ser que não haja recursos para atender à demanda, prevendo-se que os grandes produtores absorvam a maior parte, restando muito pouco para os pequenos.

Apesar dos problemas, o Prorenova é visto como uma sinalização de que o governo finalmente começa a esboçar uma política para os biocombustíveis. Depois da destinação no ano passado de R$ 2,4 bilhões para a estocagem de etanol, o BNDES, pela primeira vez, se volta para o estímulo ao plantio de cana-de-açúcar, de modo a conter um retrocesso na produção, justamente em um período em que, a par do aumento da demanda interna pelos carros flex, se verifica uma grande abertura no mercado externo, com a decisão do governo dos EUA de não taxar o produto brasileiro e deixar de subsidiar a sua produção de etanol a partir do milho.

Fonte: O Estado de S. Paulo



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Preço do Gás


Por Geoberto Espírito Santo*

No Brasil, só agora o gás natural vem sendo considerado como uma opção que de há muito compõe significativamente a matriz energética mundial. Na Constituição de 1988 foi citado de relance, sobrando para as Unidades da Federação a distribuição nos estados daquele renegado subproduto. Quando em 1994 foi sancionada a Lei do Petróleo, outra vez ficou de lado. Faz pouco tempo que a ANP, a Agência Nacional do Petróleo, passou a ser Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.


A quebra de monopólio da Petrobras ocorreu de direito, mas de fato a filosofia de “O Petróleo é Nosso” representa cerca de 90% das atividades do setor. Depois de 2 anos de debate, o Presidente Lula sancionou a Lei do Gás no final de 2012, marco regulatório que flexibiliza a participação de outros agentes nos serviços de gás, através das figuras do autoprodutor, autoimportador e consumidor livre. Hoje, temos um mercado aberto com preços livres, exercido pelo monopólio de fato da Petrobras.


No suprimento, temos 5 preços de gás natural: 1) o gás da Bolívia, variando com o dólar; 2) o gás nacional, reajustado por uma fórmula baseada numa cesta de óleos no mercado internacional; 3) o do GNL (gás natural liquefeito), que em função da descoberta do shale gas nos EUA, criou novos mercados e intensificou o transporte por navios metaneiros; 4) o gás destinado ao PPT (Plano Prioritário de Termeletricidade), um acordo Governo-Petrobras para que usinas térmicas possam suprir a deficiência de água nos reservatórios das hidrelétricas; 5) o gás dos leilões, feitos periodicamente pela Petrobras para colocar no mercado secundário a sobra das térmicas, porque elas só operam 40 dias no ano.


No caso da indústria, a tarifa média do gás natural no Brasil é 17,3% mais alta que em 23 países estudados. Praticamos, em média, um preço de US$ 16,84/MMBtu, quando nos outros a média é de US$ 14,35/MMBtu. Se considerarmos US$ 7,24/MMBtu, a média praticada pelas BRICs (Brasil, Rússia, China, Índia), nossa tarifa é 98% mais alta. Só na Hungria, Eslovênia, Eslováquia, Alemanha, República Tcheca e Estônia, a tarifa é mais cara que no Brasil. Aqui, nos estados, existe uma variação de 31%. A mais cara é no Ceará (US$ 19,97/MMBtu) e a mais barata é no Mato Grosso do Sul (US$ 15,27/MMBtu). Em Alagoas US$ 18,11/MMBtu.


Três questões precisam ser equacionadas em 2012: a reformulação da Política de Preços do Gás Natural, para adequá-la à nova realidade dos mercados; a definição de um Plano Nacional de Gás, um plano de governo de médio e longo prazo, elaborado com participação da iniciativa privada e das distribuidoras estaduais e aprovado pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética); o fortalecimento da ANP e agências organizadas em todos os estados, para a regulação do mercado, transparência nas revisões tarifárias e divulgação sistemática de informações.


*Geoberto Espírito Santo é presidente da Algás


Fonte: Gazeta de Alagoas – online


Imagem: CEG