PLANETA EM MOVIMENTO

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O CORPO COMO MARCA DA INJUSTIÇA


Uma alegria só! Brincar de pique-pega, esconde-esconde, boneca ou bola. Uma época de descobertas. Paquera, conversa com amigos a respeito do coração e possíveis pretendentes. Rememorar momentos da infância e adolescência instiga a sentir grandes saudades de ótimas experiências. Divertir-se muito e ter poucos compromissos –– geralmente só se preocupar com a escola –– não é a lembrança de quem sofreu injustiças no corpo.
A pedofilia já demonstrou como é uma prática mais comum do que se imagina e merece atenção dos pais. O último caso suspeito de violência sexual contra menores foi posto na mídia há alguns dias. O possível agressor é o famoso DJ Marlboro, que teria violentado e exposto uma menina de 4 anos à pressão psicológica e humilhação. O DJ é acusado, pelos pais da criança, de mantê-la presa em um quarto, cuspir nela e ter ameaçado, caso contasse dos maus-tratos, fazer as mesmas atitudes com seus familiares.
Em entrevista a reportagem da TV Bandeirantes, os pais disseram que perceberam algo de estranho com a filha pelo comportamento dela. A menina havia passado alguns dias com Marlboro e a namorada dele. Quando retornou para casa, ao decorrer dos dias ela rejeitou a brincadeira com as bonecas e expressou mudança de pensamento e gosto. Segundo os pais, ela relatou não querer mais se casar quando crescesse.
Crianças ou adolescentes ao serem vítimas de abuso sexual geralmente se transformam em outra pessoa. Algumas preferências são apagadas e algumas acesas. A noção de sexo passa a ser associada a algo ruim e doloroso ou, dependendo da maneira como o pedófilo age, a algo natural e prazeroso.Há crianças que, depois de terem sido violentadas, pegam mania pelo sexo e não vêem nada demais fazê-lo com outras crianças–– como um novo tipo de brincadeira.
Na fase infantil, sobretudo, o abuso pode gerar conseqüências para toda uma vida. Médicos e psicólogos afirmam que até os sete anos de idade a criança desenvolve parte do cérebro essencial para lidar com o mundo daí em diante. Alguma interferência negativa ocorrendo nessa fase, o futuro adulto está exposto a problemas. Uma menina ou menino que é estimulado ao prazer sexual, mas consegue apenas sentir dores com a prática estabelecida pelo pedófilo, estão provavelmente destinados ao trauma de manter qualquer relação romântica mais íntima.
O adolescente, com a cabeça parcialmente formada,está menos vulnerável a segurar um fardo para o resto da vida. Mas está sujeito a carregar feridas depois da ação de um pedófilo e, também, após a experiência com a prostituição –– muito comum no Brasil. Milhares de jovens dos 12 anos em diante vendem o corpo nas ruas e casas “apropriadas”. Garotos e garotas em 99% das vezes partem para esse negócio por necessidades materiais. Se “não são obrigados por ninguém”, são forçados pela sobrevivência.
Em diversos cantos do Brasil, as necessidades aliadas ao incentivo de chefes de grupos de prostituição é uma combinação quase irresistível para quem vive com a fome. Meninos aceitam, inclusive, a proposta de se transformarem e assumirem a caracterização de travestis. Uma oportunidade para suprir o essencial. Uma porta aberta para penetrar em um mundo que trará arrependimentos e muitas vezes humilhações, sobretudo para homens que acabam “tornando-se” mulheres sem querer –– e se vêem vazios de sua masculinidade.
Seres humanos com histórias de violência sexual ou prostituição, com marcas no físico e no psicológico, olham o passado com a vontade enorme de apagá-lo e recomeçar. Para vítimas de certos indivíduos ou de um sistema capitalista extremamente corrupto e desigual, nem Super Homem, Barbie ou as paqueras de colégio vêm à memória com sentimentos de saudade e alegria. Há a tentativa de recomeçar uma nova vida.

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